sábado, 6 de outubro de 2012

exortações

Segundo a dinâmica da comunidade vocacional, compete ao liturgista da semana, exortar brevemente os outros fiéis para saborear o Evangelho do domingo próximo. Vejamos:

25º. Domingo do Tempo Comum: “Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar”. 

Podemos comentar ao ler essa parte do Evangelho de Marcos partindo de um ponto principal, o qual é evidente: o ensinamento. Jesus caminha com os seus discípulos desejando-os ensinar. Saí da Galileia à Cafarnaum tendo como um único ensinamento: o Filho do Homem, Ele mesmo, o Messias deveria sofrer, ser entregue a mãos dos homens, morrer e em três dias ressuscitar.

Depois dessas palavras, os discípulos ficaram em silêncio. Uma questão nos surge: Mas por que silenciaram? Diz o texto, porque tinham medo de perguntar. Ora, esse silencio nos diz muito. Um silêncio que evidencia a contrariedade da lógica dita por Jesus diante da imagem construída por eles em relação ao Messias. A lógica do Messias que deveria ser poderoso, glorioso é agora enunciada pelo sofrer, pela entrega da própria vida, pela morte e também pela ressurreição.

Entretanto, diante da autoridade de suas palavras, por tudo que haviam visto dele e com ele, tem medo de relacionarem-se com Ele, de jorrar luz sobre a imagem que haviam do Messias, preferem discutir entre eles quem era o maior.

Logicamente, Jesus que caminha com eles, escuta alguns dizeres, alguns rumores. Tanto se percebe que Jesus lhes pergunta: o que discutíeis pelo caminho? Novamente, o silencio permance como consequência de uma recusa a intimidade, ao medo de aderir ao ensinamento que contrariava a lógica judaica. Isso nos mostra que a ação de Deus toca naquilo que exige deles uma mudança de forma e, consequentemente de conteúdo, uma purificação do entendimento diante da salvação oferecida a eles e a todos.

Jesus, reforço, queria ensina-los. Porém, o ensinamento é de que a libertação ou salvação do Messias perpassa a interioridade, a intimidade profunda com ele e ainda mais, tem como sinal uma concretude muito palpável, humana, relacional. O ato de Jesus sentar-se revela e ensina que sua vontade é fazer compreender que o Filho de Deus, o próprio Deus encarnado ama seu povo não com a força e o poder, mas com a proximidade, com a acolhida, com o abraço afetuoso, ao chamar a criança perto dos seus. Aquele sinal do abraço carinhoso com a criança diante dos seus ensina o modo como deve servir aquele que deseja ser o maior, aquele que o deseja imitá-lo, que deseja segui-lo. Jesus, portanto, imprimi um caráter novo, um novo modo de pensar, agir e sentir. Ensina com seus próprios atos, naquilo que está enraizado como cultura e história, e até naquilo que não é revelado, naquilo que os discípulos tem medo de dizer.

Por fim, Jesus querendo que sua paixão, morte e ressurreição fosse compreendida como consequência dos seus atos, de um sinal de amor existencial e perpetuo, abraça a criança, diz que quem assim faz, acolhe não a Ele, mas aquele que o enviou. Isso ensina, portanto, que as atitudes de Jesus atingem a própria criança que é acolhida, e também os seus discípulos. Deseja que os seus também compreendam, façam este sinal como presença, como cuidado de Deus, a partir daquilo que viram, aprenderam livres e intimamente com Ele.

Vitor Biral



27º. Domingo do Tempo Comum: “Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: 'Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas’”. 

Na Partilha da vida e na memória comprometedora do Jovem de Nazaré, comendo e bebendo de nossa utopia, estamos diante de uma afirmação fantástica e desinstaladora Daquele, que amou-nos até o fim (Jo 13, 1): o Reino de Deus é daqueles que são como crianças (Mc 10, 14).

Pode coisa mais maluca, encantadora e desconcertante que essa afirmação de Jesus aos seus e, nestes tempos, a nós? O Reino de Deus é dos que são como crianças. Não estou enganado ao afirmar que o céu não tem somente crianças, mas, diante da afirmação de Jesus, ouso a reafirmar que todos/as que lá estão são como crianças.

O que seria ser como uma criança? Olhando tantas crianças espalhadas mundo afora, olhando a minha infância e cada um pode olhar a sua, e na busca de fixar os olhos em Jesus atrevo-me a me dizer que ser como criança, entre tantas características, passa por assumir e viver cinco atitudes/valores.

Encantamento. Contemplando o encantamento das crianças com a beleza da vida que aos poucos elas vão descobrindo damo-nos conta que os cristãos ou são eternos encantados pela vida ou não são seguidores de Jesus, que foi um eterno encantado pela vida.

Gastar tempo nas coisas pequenas da vida. Deixando-nos encantar e re-encantar pela vida descobrimos a beleza, a magia e a importância de gastar tempo com as pequenas coisas da vida, que dão sentido a ela. Não é a lei, mas o amor. Não é o fazer, mas o estar. Isso Jesus viveu. Isso as crianças vivem. Por, isso elas gostam tanto de brincar ou de estar com os amiguinhos. Já pensou a belezura da vida se todas as pessoas gastassem a maior parte de suas vidas nessas pequenas coisas da vida?

Festejar. Ou o cristianismo é a religião da festa ou está seguindo um Jesus errado. Ou somos festeiros/as, no mais profundo e bonito sentido da palavra, ou não somos radicais seguidores de Jesus. Quem não gosta de uma boa festa? Olhar uma criança não querendo ir embora de uma festa nos ajuda a entender porque não gostamos de quando as festas acabam e entendemos porque Jesus tanto gostava de cear, de festejar com os seus.

Histórias. Ouvir e contar histórias. Quantas histórias todos nós ouvimos quando crianças. Quantas histórias, hoje, vamos contando e com elas encantando. Contar e ouvir histórias, contar e ouvir a vida. Nós cristãos, somos, por excelência, um povo de história e em nossas vidas somos seguidores da Palavra que se fez carne e habitou entre nós. Podemos até afirmar: somos seguidores da História que amava contar historinhas. Jesus era um apaixonado por histórias, as parábolas. As crianças amam histórias. Que bonito e profundo seria se todos nós amassemos histórias. Que fantástico seria podermos sempre ouvir e partilhar nossas histórias de vida.

Amizade. Se há algo que vamos descobrindo e vivendo na infância e que nos marca para todo o sempre é o dom da amizade. Jesus aprendeu e encarnou radicalmente a amizade. Na celebração do mistério pascal, vamos descobrindo o sabor de entregar-nos às amizades intensas, verdadeiras, profundas. Já disse sabiamente Fernando Pessoa: “Eu poderia, embora não sem dor, suportar que todos os meus amores morressem, mas enlouqueceria se todos os meus amigos morressem”.

Oxalá, em cada celebração do mistério pascal de Cristo e de nossas vidas possamos encarnar sempre mais o ser criança para seguirmos tecendo o sonho do Reino, encantados pela vida, gastando tempo nas pequenas coisas, festejando, ouvindo e partilhando histórias e vivendo radicalmente a amizade. Amém!

Luis Duarte

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